quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Abdulbaset Jarour, sírio de 25 anos, que vive no Brasil desde fevereiro do ano passado, é um dos milhares de refugiados da violenta guerra civil em curso na Síria. Ex-combatente ferido em um bombardeio que deixou sequelas em uma perna. Perdeu casa, trabalho, parentes e teve mais de cem amigos mortos no conflito.
Ao obter refúgio no Brasil, o sírio pensou que encontraria uma cidade com natureza exuberante, transporte a cavalo e economia movida pela pesca e pelo futebol de Ronaldo, Roberto Carlos e Rivaldo, craques que admirava. E, por causa dos Estados Unidos da América, imaginava que o inglês seria a língua principal. Deparou-se, em vez disso, com uma São Paulo de inúmeros prédios e carros e com poucos sinais de pessoas jogando futebol nas ruas. E falando português, o que logo se impôs como um grande desafio. Quando seu dinheiro acabou, Abdo passou a consertar celulares na loja de um libanês na Avenida Paulista – na Síria, o jovem era dono de um estabelecimento semelhante.
Tudo melhorou após ele conhecer Cavalcante em um supermercado e ser apresentado por ele à professora Valdívia Oliveira. Com salário atrasado e sem ter como pagar o aluguel em Santo Amaro, na zona sul paulistana, foi acolhido na casa dela, no extremo leste da cidade.
Desde então, seu português deslanchou. "Ele fala até inconstitucionalissimamente”, elogia o amigo professor. Na conversa com a BBC Brasil, acertou "paralelepípedo" de primeira. Até as experiências aprovadas pelo sírio trazem surpresas. Um dia, ele se entregou, feliz, à euforia de uma multidão nas ruas. Para seu espanto, porém, descobriu depois que, em vez de uma festa popular, participara de uma manifestação contra a presidente Dilma Rousseff.

Curioso, quis saber de Valdívia por que os policiais só haviam observado aquele ato político. "Ele achou interessante porque na Síria os protestos (contra o governo) são reprimidos com violência", conta a amiga.

Nenhum comentário:

Postar um comentário