Abdulbaset Jarour, sírio de 25
anos, que vive no Brasil desde fevereiro do ano passado, é um dos milhares de
refugiados da violenta guerra civil em curso na Síria. Ex-combatente ferido em
um bombardeio que deixou sequelas em uma perna. Perdeu casa, trabalho, parentes
e teve mais de cem amigos mortos no conflito.
Ao obter refúgio no Brasil, o
sírio pensou que encontraria uma cidade com natureza exuberante, transporte a
cavalo e economia movida pela pesca e pelo futebol de Ronaldo, Roberto Carlos e
Rivaldo, craques que admirava. E, por causa dos Estados Unidos da América,
imaginava que o inglês seria a língua principal. Deparou-se, em vez disso, com
uma São Paulo de inúmeros prédios e carros e com poucos sinais de pessoas jogando
futebol nas ruas. E falando português, o que logo se impôs como um grande
desafio. Quando seu dinheiro acabou, Abdo passou a consertar celulares na loja
de um libanês na Avenida Paulista – na Síria, o jovem era dono de um
estabelecimento semelhante.
Tudo melhorou após ele conhecer
Cavalcante em um supermercado e ser apresentado por ele à professora Valdívia
Oliveira. Com salário atrasado e sem ter como pagar o aluguel em Santo Amaro,
na zona sul paulistana, foi acolhido na casa dela, no extremo leste da cidade.
Desde então, seu português
deslanchou. "Ele fala até inconstitucionalissimamente”, elogia o amigo
professor. Na conversa com a BBC Brasil, acertou "paralelepípedo" de
primeira. Até as experiências aprovadas pelo sírio trazem surpresas. Um dia, ele
se entregou, feliz, à euforia de uma multidão nas ruas. Para seu espanto,
porém, descobriu depois que, em vez de uma festa popular, participara de uma
manifestação contra a presidente Dilma Rousseff.
Curioso, quis saber de Valdívia
por que os policiais só haviam observado aquele ato político. "Ele achou
interessante porque na Síria os protestos (contra o governo) são reprimidos com
violência", conta a amiga.
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